5 de março de 2012

Desapego

  
Recebi algumas semanas atrás o texto Vende-se Tudo de Martha Medeiros no meu email, de uma amiga que está passando por um momento que nossa familia já passou a quase 2 anos, a hora de se desfazer de tudo que não vai na viagem com você, e escolher o que realmente importa.
  Que tarefa difícil, que agonia, veio tudinho na mente como se fosse hoje. Mas lembrei também a lição que aprendi com isso, o que vendemos foi a casa, mas não o nosso lar!
  Depois que conseguimos comprador pro nosso apartamento, começamos a divulgar para os conhecidos que estavamos vendendo tudo, e aos pouquinhos, tudo foi indo embora, exatamente como fala no texto da Martha. Um dia era um brinquedo que a gente doava, no outro dia vinha um amigo do amigo comprar o DVD e aparelho de som, a vizinha vinha verificar o tamanho da cama, e assim devagarinho foi se formando buracos no meu apartamento. Minha filha, com 4 anos de idade, já tinha que escolher o que ficava e o que ia junto. É claro que ela queria tudo, foi bem difícil doar o seu bauzinho de bonecas, procuramos fazer aos poucos, mas criança não é boba, quando sentia falta de alguma coisa, logo perguntava com olhinhos cheios d'água: "Eu tenho que dar tudo isso mamãe? Não posso ficar com nada?" Procurava acalmar e explicar que logo a gente teria tudo de volta, nem sempre funcionava...

  Chegou o dia da mudança, pedimos para os compradores retirarem as coisas mais importantes na sexta ou no sábado, quando estariamos indo ao hotel que seria nossa casa até o dia de ir embora, e logo cedinho começou o entra e sai.
  Como uma flor, minha casa estava sendo despetalada, peça por peça, móvel por móvel, e o vazio aumentava cada vez mais. Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, o último a sair foi o fogão, que doamos para uma familia que realmente precisava: "Deus lhe pague! Muito obrigado pelo fogão." falou o moço todo agradecido. Ele já está me dando muito mais que mereço, pensei.
  Alguns móveis que sobraram ficou pro pessoal que trabalhava no condomínio, e fiquei feliz de ter ajudado um pouquinho gente tão boa.
  Colocamos as últimas sacolas no porta malas, o Alex ligou o carro e começamos a chorar, estavamos deixando pra trás uma vida feliz, rumo ao inesperado, era o fim de um ciclo, as voltas que o mundo dá, e nós estavamos tontos, o mundo naquele momento estava em rotações anormais.
  Mas como falei, vendemos a casa, não o lar, levamos conosco a nossa união, o nosso amor e os nossos sonhos e expectativas, deixei algumas coisinhas pra buscar mais tarde, mas nada que me fez tanta falta até conseguir voltar ao Brasil. Algumas pessoas nos diziam: "Eu não conseguiria fazer o que vocês estão fazendo", e realmente, acredito que nem todos estão preparados a largar tudo e recomeçar em outro canto do mundo. Não seria uma experiência só para os fortes, mas sim só para os desapegados, os que entendem que a vida é muito mais que TER, a vida é SENTIR e AMAR, e apenas isso.
  Hoje me pergunto, será que faria tudo de novo? Eu acho que sim... Afinal, aos poucos a gente vai aprendendo a deixar a mala cada vez menor, pois o coração cresce, e o que mais importa cabe nele direitinho.